Muladhara Chakra
Descrição de Swami Satyananda Saraswati

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A palavra muladhara tem o sentido de "raiz" (mula) e de "base" (adhara); é, portanto, a raiz, o fundamento dos sete chakras. Satyananda sugere que mula é entendido melhor como mula-prakriti, a base transcendental da natureza física na tradição Sankhya da filosofia indiana. (Prakriti é a matéria caracterizada como feminina, em contraste com o masculino purusha - espírito., Mula-prakriti é a origem primordial de todo o processo de evolução natural, o princípio ao qual a matéria retoma depois de desintegrada. É responsável por todos os aspectos do homem - tanto fisico como material e psicológico - inclusive pela consciência e inconsciência. O muladhara é a sede de mula-prakriti, a grande Shakti; ali jaz a força transcendental pronta para ser ativada.
No corpo físico, o chakra muladhara localiza-se no períneo (a região entre o anus e os órgãos genitais). Ligado diretamente aos testículos, está associado aos nervos sensoriais que os alimentam. No corpo feminino, localiza-se no colo do útero. As antigas escrituras iogues associam o muladhara ao elemento terra, cujo atributo principal é o olfato; assim, no nível físico o muladhara está ligado ao sentido do olfato e com o nariz.
Segundo a tradição, o muladhara é representado por um lótus de quatro pétalas vermelhas; cada uma delas contém uma letra sânscrita (Sam, Vam, Sham e Sám); cada letra representa as vibrações individuais dos nadis correspondentes. O mantra bija deste chakra é Lam, o som que representa o elemento terra. A divindade feminina reinante é Dákini, terrível e de olhos vermelhos; seu correlativo masculino é Ganesha, encarnado na forma de um elefante.
O triângulo invertido no diagrama do muladhara simboliza shakti a energia criadora. Conforme exposto anteriormente, o Shiva-linga ou a forma fálica no interior do triângulo representa o corpo astral. A serpente enrolada em volta dele é o símbolo da kundalini. A kundalini apoia-se num elefante, cujas sete trombas representam os sete minerais indispensáveis para o sustento do corpo físico. O quadrado amarelo dentro do pericarpo que abriga esses símbolos é o yantra - símbolo de uma energia psiquica especial - do chakra muladhara. Esta configuração significa o elemento terra e seu tipo correspondente de energia.
Satyananda explica a importância dos yantras da seguinte maneira: a existência humana compõe-se de muitos corpos, cada um contendo diversos centros nervosos, hemoglobina, oxigênio, carbono, etc.; o corpo astral - o corpo psíquico, o grande inconsciente - compõe-se de muitos aspectos ou dimensões; uma delas é um agregado de símbolos geométricos; outra compreende vibrações sonoras - o mundo dos mantras. Quando uma pessoa entra num estado de meditação profunda, através da concentração num deteminado chakra, ela transcende a consciência do ego; entra realmente num reino onde existem apenas vibrações sonoras de um único mantra, nada mais. Da mesma forma, é possível experimentar a dimensão onde não há mais nada além do padrão geométrico - o mundo dos yantras.
Com base em tal experiência, Satyananda fala da realidade do mantra e do yantra. "Yan" significa "conceber" e "tra" significa "liberar"; ambas tem o mesmo significado essencial. Concentrando-se num determinado yantra, o indivíduo percebe sua consciência conforme um padrão pré-estabelecido. A medida que aumenta a concentração, o yantra é ativado e a consciência assume gradualmente sua forma simbólica. Uma vez ocorrida a unificação total, libera-se então a mente. Cada um dos sete chakras possui um yantra. Através da concentração sobre um determinado chakra, experimenta-se a dimensão mística da personalidade onde existem os yantras e, mais especificamente, o princípio do próprio chakra.
Uma das mais importantes funções do guru é escolher o chakra apropriado para o indivíduo se concentrar, ato que se executa pronunciando-se o mantra correspondente e visualizando-se o yantra. Em minha opinião, o guru baseia esta sua escolha nas características cármicas da pessoa. O carma das vidas passadas cria uma série de padrões de elementos físicos e psicológicos. Na dimensão do yantra, esses padrões podem ser observados em forma geométrica. O carma da pessoa tende a ser alterado e purificado de uma forma mais eficiente através da ativação do chakra adequado com sua penetrante influência em todos os níveis do ser humano. Um dos melhores métodos de ativar o chakra é a estimulação direta do reino yantrico da consciência através da visualização do yantra.
Conforme ja verificamos, a kundalini está adormecida, feito uma cobra enrolada no chakra muladhara. Dentro do muladhara existe uma formação semelhante a um nó, conhecida como o Brahma granthi. Quando este nó e desfeito, shakti, o poder da kundalini, começa a subir pelo nadi sushumna, no interior da espinha dorsal. Existem dois outros granthis ao longo do sushumna: o granthi Vishnu no chakra anahata, e o granthi Rudra no ajna. Esses nos psíquicos formam uma barreira que impede a elevação da kundalini, porém uma vez desatados, o poder serpentino pode continuar sua subida, e o praticante recebe muita sabedoria e poder.
Quando a kundalini se ativa como resultado da prática do yoga ou de outras disciplinas espirituais, ocorre um alvoroço explosivo procedente dos domínios da inconsciência. Parece-se com a irupção de um vulcão, onde a lava escondida em seu interior é expelida para fora. Tal descarga pode conter o carma de muitas encarnações passadas, extraído subitamente do depósito inconsciente do muladhara. Mais uma vez, não se esqueça: o chakra ajna deve ser ativado antes de qualquer outro, assim essas poderosas forças inconscientes podem ser controladas com segurança.
A kundalini possui duas qualidades contrastantes. Enquanto jaz dormente no muladhara, ela existe apenas na condição inativa e além dos limites de tempo e espaço. Todavia, quando ativada, transforma-se num tipo de força material, sujeita as leis da dimensão física. O mesmo acontece com o mula-prakriti universal que, embora transcenda o tempo e o espaço antes da criação da natureza, adapta-se cada vez mais a essas leis à medida que avança no processo evolucionário.
Quando o muladhara desperta, ocorre um grande número de fenômenos. A primeira coisa que muitos praticantes experimentam e a levitação do corpo astral. Algumas pessoas tem a sensação de estarem flutuando no espaço, deixando o corpo físico para trás. Isso ocorre devido à energia da kundalini, cujo impulso de ascensão faz com que o corpo astral se desprenda do físico, deslocando-se um pouco para cima. Esse fenomeno limita-se à dimensão astral e possivelmente é mental, e é diferente da levitação conhecida normalmente - a deslocação real do corpo físico.
Além da levitação astral, às vezes alguns experimentam um fenômeno psíquico tal como a clarividência ou a clariaudiência. Outras manifestações comuns são os movimentos ou o aumento de temperatura na região do coccix, e a sensação de algo se movendo vagarosamente para cima na coluna vertebral. Tais sensações resultam na ascensão do shakti, a energia da kundalini ativa.
Em muitos casos, quando o shakti alcança o chakra manipura, ele começa a descer, de volta para o muladhara. Muitas vezes o praticante tem a sensação de que a energia sobe até o alto da cabeça, porém na maioria das vezes apenas uma pequena quantidade de shakti é capaz de ultrapassar o manipura. É necessário tentar repetidas vezes para que a kundalini se eleve mais além. Segundo Satyananda, uma vez ultrapassado o manipura, não se encontra mais nenhum obstáculo sério. Porém surgem muitos problemas durante o estágio em que a kundalini ativa apenas os chakras muladhara e svadhishthana.
O despertar do chakra muladhara libera todos os tipos de emoções reprimidas de forma tão explosiva que o praticante, muitas vezes, torna-se irritadiço e psicologicamente instável. Um dia ele consegue dormir um sono profundo por muitas horas, no outro pode acordar no meio da noite, completamente sem sono, a fim de meditar ou de tomar um banho. Ele também torna-se temperamental; às vezes pode estar comunicativo, bastante alegre para cantar, e outras vezes torna-se facilmente enfurecido a ponto de atirar objetos nas outras pessoas. Durante esse estágio de instabilidade emocional e psíquica, e imprescindível a orientação de um mestre experiente e qualificado. O despertar do chakra svadhishthana leva a um estado semelhante: sentimentos de ira, tristeza, incerteza, insensatez, etc. podem chegar a um ponto quase insuportável. Em vez de tentar evitar esse período tumultuoso, o praticante deve enfrentá-lo, porém com a supervisão de seu guru. Tal torrente de sentimentos não é sinal de degeneração ou de mau caráter, mas sim parte integrante do processo evolucionário. Se esses estágios forem evitados ou suprimidos, não será possível mais nenhum tipo de progresso.
Existem outros chakras inferiores subordinados ao muladhara, que são: Atara, Vitara, Sutara, Talatara, Rasatara, Mahatara e Patala. Localizam.se entre o coccix e os calcanhares e controlam os instintos animais. Embora o chakra muladhara esteja num plano superior em relação a estes sete, nele predominam a paixão e os instintos animais. Todavia, o shakti divino também reside nele; assim, uma pessoa comum pode eventualmente entregar-se ao domínio dos chakras inferiores, comportando-se instintivamente como um animal. Entretanto, acredita-se que ela sempre retornará ao muladhara ou a outros chakras humanos superiores. A correta prática da yoga kundalini, no entanto, faz com que seja impossível a kundalini descer para esses centros animais devido à transformação do shakti, no muladhara, em energia espiritual (ojas), o que faz com que ele suba pelo sushumna.
Os três nadis principais - ida, pingala e sushumna - originam-se no muladhara. Eles são os mais importantes dentre os supostos 72.000 nadis no corpo (apenas uma fonte dá uma estimativa de 300.000). Satyananda afirma que embora a palavra "nadi" seja frequentemente traduzida por "nervo", ela deriva da raiz nad, "fluir". Portanto, deveria ser interpretada como o fluxo de consciência psíquica e não simplesmente como um conduto físico para esse fluxo.
O nadi ida começa no lado esquerdo do chakra muladhara, o pingala no direito, e o sushumna a partir do centro. No interior do sushumna existe um nadi mais sutil, o chitra, e dentro deste encontra-se o nadi Brahma, mais sutil ainda. Portanto, o sushumna pode ser considerado um conduto para dois fluxos de consciência. Partindo do muladhara, o sushumna segue em linha reta até o chakra ajna. O ida e o pingala sobem pela espinha num movimento espiral, entrecruzando-se na altura de cada chakra. Finalmente, o ida chega ao chakra ajna pela esquerda e o pingala pela direita. Acredita-se que o ida controla as atividades mental e psíquica, enquanto o pingala controla o prana e as diversas atividades físicas. O fato de altemarem suas posições ao atingir cada chakra, ajuda a manter o equilíbrio entre a energia psicológica e a física, assegurando a harmonia entre as atividades do corpo e da mente. Satyananda afirma que se houver um desequilíbrio no fluxo de energia nos nadis ida e pingala, o shakti nao poderá fluir, muito menos subir pelo sushumna.

Características
: instinto de sobrevivência, solidez, autoconfiança, materialidade, boa comunicação, relação sadia com a matéria, capacidade de transcender limites e discernimento espiritual.
Aspectos Negativos: inércia, posse, medo, apego, rigidez, cobiça, avidez, bloqueio na comunicação, tendência de ser manipulado, credulidade, dificuldade em dar e receber e possessividade.