Ashtanga Yoga
1 - Astanga Yoga (Yoga dos oito membros)
Originou-se nos "Yoga Sutras", um antigo documento que
apresenta o Yoga de forma organizada e sistematicamente estruturado. O autor deste
documento foi o sábio Patanjali (século IV A.C.). Segundo ele, os oito membros do Yoga
são:
I Yama (refreamentos)
Ahimsa | Satya |
Asteya |
Brahmacarya |
Aparigraha |
Não-violência |
Verdade |
Não-roubo |
Continência |
Não-possessividade |
Yama significa domar, controlar, refrear, e nos conduz a idéia de que devemos estar atentos aos nossos instintos naturais. Estes são muito fortes, e se não nos colocarmos em uma atitude de constante vigilância, poderemos ser levados a praticar diversas atitudes que não são condizentes com a nossa condição de seres racionais; além de nos levar a ruína física e mental. Yama fala da nossa relação com a sociedade.
Este é um dos princípios básicos de nossa relação com o mundo. Significa estarmos em relação com ele mais não praticarmos qualquer ato que venha trazer algum tipo de prejuízo a qualquer forma de vida existente. Devemos lembrar que um ato violento pode ser executado não somente com ações, mas também com pensamentos e palavras. Caluniar alguém, por exemplo, é um ato de violência, mesmo que tenhamos certeza da veracidade do fato.
Na verdade quando praticamos a violência, sob quaisquer das formas acima, estamos praticado contra nós mesmos, pois as ondas mentais criadas para isto geram a ignorância; que nos leva consequentemente ao ódio. Na verdade quando praticamos um ato violento a vítima não é somente aquele que foi atingido por este ato, mas também nós sofremos com ele, pois o ódio que foi o propulsor do ato fica alojado em nossa consciência. Isto nos levará cada vez mais a um profundo estado de ignorância, pois perderemos a percepção de que nada é separado neste mundo. Cada partícula, por mais ínfima que seja, é parte de um Todo.
Também irá propiciar a desestabilização da nossa mente, e com isto abrir brechas no sistema imunológico, possibilitando o aparecimento de uma série de patologias. Por outro lado é impossível viver sem destruirmos algumas formas inferiores de vida.
Veja o que diz sobre isto o trecho descrito no livro "O Yoga Tara Michael": "Entretanto, estando a vida presente em toda a parte, mesmos nos vegetais é impossível existir sem destruir formas inferiores de vida. Como diz o herói Arjuna no Mahabharata: Há neste mundo tantas minúsculas criaturas, invisíveis a olho nu, mas cuja existência pode ser provada, que por um simples piscar de olhos seus corpos são destruídos. Por isso o voto de Ahimsa não reside propriamente na aplicação literal e absoluta do preceito de não destruir a vida, afinal impossível enquanto o Yogin estiver vivo; na realidade a inofensividade se mede pelo grau em que o homem consegue esvaziar seu espírito de toda e qualquer intenção hostil e animosidade inconsciente para com todas as espécies de seres criados."
A verdade deve fazer parte de todos os momentos de nossa vida. Ela deve estar contida não somente em nossas palavras, mas especialmente em nossos pensamentos. Ela deve ser respeitada em relação aos outros e a nós mesmos. Satya (verdade) e Ahimsa (não-violência) devem andar sempre juntas, pois a palavra é a forma de expressão do pensamento. Neste caso não há como se falar a verdade se os pensamentos estão carregados de ignorância.
A verdade só pode ser atingida quando se tem uma correta compreensão sobre os fatos, e não deixamos que os sentimentos, emoções, interesses e preconceitos entrem no momento da análise dos mesmos.
A verdade deve ser utilizada com bastante cautela, pois mesmo que não haja nenhuma dúvida sobre a veracidade dos fatos, se ao ser proferida ela infligir o mal a alguém, é preferível não dizê-la.
Por outro lado devemos ter muito cuidado para não manipularmos a verdade, sob o pretexto de não ferir alguém, e com isto tirar proveito dos fatos em benefício próprio.
O Mahabharata nos dá um exemplo de como a verdade pode, às vezes, sendo dita de maneira completa, trazer grande mal as pessoas, veja:
"Se vocês vissem várias pessoas escaparem das mãos dos salteadores e se esconderem em algum lugar, e se os salteadores que as perseguem, de espada na mão, lhes perguntassem ou os intimassem a dizer onde estão escondidas essas pessoas, vocês dirão a verdade ou salvarão a vida desses inocentes?"
"Se puderem livrar-se desta sem falar, não digam nada. Mas se for necessário falar, ou se, não falando, se arriscarem a provocar suspeitas no espírito dos que os interrogam, ora!, dizer uma mentira mostrou ser, após madura deliberação, bem melhor que dizer a verdade."
"Tais situações são exceções à lei da Verdade, nas quais mais que a verdade literal, deve-se dizer o que conduz ao maior bem de todos, porque aquilo em que reside o maior bem de todos é, a meu ver, a verdadeira Verdade".
Este princípio nos mostra que não devemos, sob nenhuma hipótese, nos apropriarmos de qualquer coisa que não nos pertença. Até mesmo o desejo sobre algo que não é nosso estará ferindo este princípio.
Nenhum de nós tem o direito de julgar se o que alguém possui é lícito ou não. Nem cabe a nós nos intitularmos os donos da verdade e nos apossarmos dessas coisas, em proveito próprio. Se alguém se apossa de algo que não lhe pertence, não nos cabe o papel de tomar essa coisa; e sim as autoridades legais fazê-lo, após inquérito e julgamento.
O nosso papel aqui é o de sempre estar atento, controlando firmemente o nosso desejo, para evitar que isto nos leve a ruína moral e espiritual.
Veja o que diz sobre isto o trecho descrito no livro "O Yoga Tara Michael": "Quando o Yogin está perfeitamente firmado na não-apropriação, os tesouros afluem de todas as partes em sua direção. Os doadores julgam-se felizes por poderem oferecer-lhes o melhor do que têm e, em todo lugar, a elite dos seres é atraída em sua direção."
Não significa nenhum pecado o uso do sexo quando duas pessoas se unem para formar uma família. Desta forma o sexo deve ser encarado como parte do processo criativo da vida. As leis do dharma o colocam como um verdadeiro ritual. Mas por ser ele um dos instintos mais aguçados no homem, normalmente este perde o controle sobre o mesmo e faz dele uso promíscuo e exacerbado.
Devemos lembrar que a perversão no uso do sexo não se restringe somente ao ato em si, mas também a maneira de pensar e falar promiscuamente sobre este.
Agora, sobre o ponto de vista do Yogin todo o conceito muda, pois com o intuito de preservar a energia sexual e transmutá-la em energia espiritual, este assume a tarefa de manter-se casto. O Yogin entende que este controle o levará a estabilização da mente e a aquisição de muita energia. Energia esta que o levará, mais rapidamente, a transcender as limitações de uma mente descontrolada e distraída pelos instintos naturais.
É importante lembrar que brahmacarya não deve ser um ato imposto, mas sim uma opção feita pelo Yogin, com uma finalidade específica.
Veja o que diz sobre isto o trecho descrito no livro "O Yoga Tara Michael": "O domínio da função sexual implica o domínio sobre as outras faculdades de percepção e de ação, pois não se trata somente de abster-se de atos sexuais: Pensar, falar ou pilheriar a propósito de sexo, olhar insistentemente, segredar, decidir-se a praticá-lo, tentar executá-lo e chegar a fazê-lo são oito maneiras de entregar-se à atividade sexual. Aqueles que procuram a liberação devem praticar o oposto."
A cobiça é outro instinto muito forte no homem. Por ela o homem perde todo o controle e comete os mais bárbaros atos de violência. Ahimsa, satya, asteya, brahmacarya perdem todo o seu valor quando a cobiça toma conta da mente do homem.
Deve-se estar todo o tempo vigilante quanto a vontade de acumular coisas, pois a nossa mente nunca nos deixará sentir o prazer de estar totalmente satisfeito. Quanto mais acumulamos, mais vamos querer acumular.O Yogin, especialmente, devem ter em mente que acumular coisas tornará a sua bagagem excessivamente pesada para a jornada em busca da libertação. Ele deve estar ciente que deve preservar apenas o mínimo necessário para a sua subsistência, e assim doar tudo que é supérfluo na sua jornada.
Veja o que diz sobre isto o trecho descrito no livro "O Yoga Tara Michael": "Quando a não-possessividade atingi sua perfeição, a clarividência do Yogin torna-se tal que ele pode conhecer suas existências passadas."
II Niyama (conduta virtuosa)
Saucha |
Samtosha |
Tapas |
Svadhyaya |
Ishvara-Pranidhana |
Purificação |
Contentamento |
Esforço |
Estudo |
Entrega a Deus |
Niyama nos mostra como podemos trabalhar de forma a reestruturar toda a nossa vida pessoal. Niyama fala da nossa relação com o nosso interior, ao contrário de Yama que fala da nossa relação com a sociedade.
Para o Yogin alcançar níveis mais sutis da consciência é estritamente necessário que este busque a máxima purificação interior. Esta deve ser a nível físico e mental; e a partir daí seguir para níveis ainda mais profundos. Estas purificações são de vários tipos, como: especial cuidado com o alimento ingerido (deve ser o mais sattivico possível), evitar bebidas alcoólicas, estar vigilante aos pensamentos, manter conduta moral e ética, utilizar técnicas de limpeza interna (Kriyas do Hata Yoga), cantar Mantras e outras técnicas que tornem a mente e o corpo leves e saudáveis.
O Yogin busca a alegria de viver naquilo que tem, e não naquilo que ele gostaria de possuir. A sua vida e todos os seus pertences, por poucos que sejam, são uma dádiva de Deus, este é o espírito do Yogin. A perseguição aos desejos deve ser eliminada, pois ele sabe que este não tem fim. Nunca haverá contentamento total, pois os desejos são insaciáveis. O Yogin sabe disso e, então, busca a realização naquilo que ele já tem; o dom da vida.
Veja o que diz sobre isto o trecho descrito no livro "O Yoga Tara Michael": "Aquele cujo espírito não vacila na adversidade, que não procura agarrar-se aos prazeres, aquele a quem abandonaram a atração, o medo e a cólera, é o sábio que está firme em sua compreensão"
"Aquele que não é afetado por coisa alguma, boa ou má, e não odeia nem se regozija, sua sabedoria está solidamente estabelecida".
Tapas fala sobre a força que o Yogin deve ter para dirigir todas as suas energias em busca do objetivo maior, a liberação (Moksha). Para que tenhamos sucesso em qualquer item de Yama e Niyama precisamos, antes de tudo, conquistar Tapas. Uma pessoa com uma mente fraca dificilmente conseguirá manter, por muito tempo, o esforço sobre qualquer coisa, especialmente sobre si mesma.
Todo o esforço, todas as purificações e outras coisas mais são de extrema importância na caminhada do Yogin, mas tudo poderá ser em vão se este não estiver atento ao estudo profundo dos ensinamentos dos mestres; aqueles que já passaram por todas estas experiências, superando-as, portanto aptos a mostrar os caminhos que irão nos auxiliar nesta jornada. Este estudo não deve limitar-se ao entendimento intelectual, mas sim ao mergulho profundo na essência dos textos, procurando entender e aplicar cada um deles na nossa jornada.
Veja o que diz sobre isto o trecho descrito no livro "O Yoga Tara Michael": " Quando o Svadhyaya se torna perfeito e o Yogin permanece fixado ininterruptamente sobre o Mantra repetido com plena consciência de seu significado, ele obtém o poder de entrar em contato com a divindade de sua escolha. Os seres divinos, os sábios (Rshi), os realizados (Siddha) que invoca, aparecem diante dele.
Significa literalmente oferecermos todas as ações a Deus. O Yogin deve estar todo o tempo atento ao fato de que tudo que ele faz deve ser entregue a Deus. Tudo e que faz deve ser digno de ser entregue a Deus. Desta maneira ele deve ter o cuidado de fazer as ações sempre com a mente desprovida de cobiça, ódio, mentira, etc.
Esta entrega não deve, em nenhuma hipótese, dar ao Yogin a sensação que basta deixar nas mãos de Deus a solução para todas as questões. Este tem que estar trabalhando todo o tempo na busca da ação correta. Fazendo isto, com a mente em Deus, todas as tarefas tornar-se-ão mais suaves e trarão ao Yogin uma alegria constante.
III Asana (Postura física)
Asana literalmente quer dizer postura. Para que a postura seja correta é necessário que esta atenda a dois requisitos essenciais: "Ser estável e agradável". O objetivo das Asanas é dar firmeza ao corpo, reduzir a agitação corporal e concentrar as energias que se encontram dispersas. "Segundo os tratados de Hata Yoga existem oitenta e quatro centenas de milhares de posturas, dentre as quais oito mil e quatrocentas são mantidas pela tradição, e dentre estas últimas oitenta e quatro são as mais importantes." (O Yoga Tara Michael).
IV Pranayama (Disciplina de respiração)
Pranayama não é simplesmente um exercício respiratório. Este, além disto, tem um objetivo muito mais profundo, que se relaciona com a limpeza dos canais energéticos do nosso corpo e com o correto direcionamento e controle nas energias sutis que nos envolvem. Existem diversas técnicas para este fim, mas é preciso que este trabalho seja executado sob supervisão de um profissional experiente, que já tenha evoluído pelos princípios básicos das diversas técnicas respiratórias. Neste curso vamos aprender duas técnicas simples mais que são muito poderosas, estas são o Kapalabhati (Kriya) e Nadi Sodhana Pranayama. Veja o que diz sobre isto os trechos descrito no livro "O Yoga Tara Michael":
"Considera-se o Pranayama como a mais elevada forma de Ascese, que purifica de todas as impurezas e alimenta a chama do Conhecimento: Pelo Pranayama, a rede de opaca, que recobre a luminosidade intrínseca do espírito (Citta) é gradativamente dissolvida, e o espírito torna-se apto à concentração."
"O Pranayama corretamente executado destrói todas as doenças. Mas Uma prática incorreta causa todas as doenças: soluço, sufocação, tosse, enxaqueca, dores nos ouvidos e nos olhos, e assim por diante."
"Os principais sinais exteriores da purificação das Nadis são a magreza física, a tez luminosa, maior apetite, e uma saúde perfeita."
V Pratyahara (Retraimento dos sentidos)
Estando totalmente desligado dos sentidos, e objetos ligados ao mundo exterior, o Yogin alcança um estado tal que o liberta de ser presa de qualquer distração. A partir deste momento ele poderá lançar-se com mais facilidade para o próximo degrau, que é Dharana (concentração). Porém não se iluda com a possibilidade de encontrar facilidade no domínio destes sentidos, pois estes são implacáveis com aquele que não tem o poder do autocontrole.
Veja o que diz sobre isto os trechos descrito no livro "O Yoga Tara Michael": "Essa capacidade de abstrair-se não é facilmente obtida, o próprio Krsna o reconhece na Bhagavad-Gita: Mesmo o espírito sábio que se esforça em direção à perfeição é arrastado, ó filho de Kunti, pela veemente insistência dos sentidos."
VI Dharana (Fixação da atenção - Concentração)
Dharana é o ato de concentrar a mente em um único ponto, mantendo a mesma absolutamente atenta e sem nenhum desvio. Isto é bastante difícil para a maioria das pessoas, pois a mente está sempre vagando de pensamentos em pensamentos. Este constante mudar de foco da mente é comparado a imagem de um macaco que fica pulando de galho em galho, sem nunca parar.
Mas quando, pela força da vontade e bastante treinamento, a mente fica estável em um único objeto, dizemos que o estado de concentração foi atingido. A partir daí o Yogin poderá galgar ao próximo degrau, que é Dhyana (meditação).
VII Dhyana (Meditação)
O estado de Dhyana é conseguido quando o Yogin persiste em de Dharana, até que a sua mente seja totalmente absorvida pelo objeto da concentração. Veja o que diz sobre isto os trechos descrito no livro "O Yoga Tara Michael":
" Um fluxo contínuo de cognição sobre esse ponto é denominado meditação (Dhyana). Durante Dharana, a atenção devia ser constantemente reconduzida ao objeto de concentração, e parecia então uma sucessão de gotas dágua; mas quando a atenção fixada se torna prolongada e ininterrupta, assemelha-se a um fluxo de óleo ou de mel, igual e contínuo. É assim que Vyasa define Dhyana: Um continuado esforço mental para assimilar o objeto da meditação, livre de qualquer distração."
VIII Samadhi (Êxtase)
O Samadhi é na verdade a continuidade ininterrupta de Dhyana; ou seja: quando Dhyana torna-se tão intensa que o Yogin não possa mais diferenciar-se do objeto em foco, ele se torna o próprio objeto; isto é Samadhi. O ego desaparece e o Yogin usufrui da percepção da supraconciência; aquela que está além dos limites da consciência mundana ("Yoga é Samadhi").
Não há palavras que possam descrever este estado. Qualquer tentativa de fazê-lo será certamente levado a uma ligeira idéia, mas nunca a essência deste.
Embora o Yogin tenha alcançado este estado, o mesmo ainda não pode vangloriar-se de estar liberto das armadilhas da mente, pois existem vários estágios de Samadhi. Estes estágios deverão ser vencidos um a um, com a contínua persistência na busca de manter este estado e aprofundá-lo cada vez mais.